Quando o produtor colhe um café de baixa qualidade, seja por questões climáticas ou de processos, ele pode perder pelos menos 50% do valor de venda”, diz o cafeicultor João Paulo Damasceno, da fazenda Olhos D’Água, em São José da Barra, município que faz parte do circuito mineiro dos produtores do grão. Foi para mudar essa sina que Damasceno tomou uma decisão: investir para aumentar a rentabilidade nos 100 hectares de cultivo. Nos últimos três anos, foram gastos cerca de R$ 2,2 milhões para melhorar as estruturas de irrigação e de beneficiamento do grão.  “Colho, em média, 2,5 mil sacas de 60 quilos por safra e apliquei cerca de 30% do meu rendimento bruto em melhorias”, diz o produtor. “Investi porque quero mais qualidade no café.” O esforço de Damasceno tem um objetivo muito claro: acessar o mercado de cafés especiais, no qual o valor recebido por saca pode chegar a R$ 800, praticamente o dobro do que conseguiu pelo café vendido em 2015, que foi de R$ 425 a saca.

Na safra passada, o Brasil produziu cerca de cinco milhões de sacas de cafés especiais, do total de 43,2 milhões sacas colhidas. Os especiais tem respondido por até 12% da safra, muito pouco se comparado à Colômbia, país que é referência em qualidade e que produz 11,9 milhões de sacas por safra e tem cerca de 35% desse total em cafés especiais. No Brasil, a maior parte dos bons cafés colhidos é exportada.

No ano passado, mais de oito milhões de sacas foram compradas por Estados Unidos, Japão e Europa, por US$ 1,8 bilhão, segundo dados da Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA).

O produtor Damasceno quer acessar esse mercado por meio da Cooperativa Regional de Cafeicultores em Guaxupé (Cooxupé), no Sul de Minas Gerais, da qual ele faz parte e é uma das principais exportadoras de café do Brasil. De acordo com Carlos Alberto Paulino da Costa, presidente da cooperativa, os cafés de granação 16, 17 e 18, de uma escala que começa em oito, são os preferidos pelo mercado internacional. No início do mês passado, para esse grão, a Cooxupé estava pagando R$ 515 por saca, valor 32% acima do menor preço de referência da cooperativa, de R$ 390. “São os baixos estoques no mercado que estão segurando os preços altos”, afirma Paulino da Costa. “O produtor precisa aproveitar esse momento.”

O relatório do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (Usda), mostra que os estoques mundiais do grão devem encerrar a temporada 2015/2016 com 36,7 milhões de sacas, 15% menos que na safra anterior. No Brasil, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) sinaliza um estoque de 15,9 milhões de sacas em 2015, contra 16,8 milhões em 2014. “Isso é consequência da seca dos últimos anos”, afirma o presidente da Cooxupé. “Nosso estoque está diminuindo, pois em anos anteriores a exportação e o consumo foram bem superiores à produção.”

A falta de produto na praça está fazendo com que as pequenas fazendas de café tenham oportunidade de negócio, trabalhando em pé de igualdade com os grandes cafeicultores da região. É o caso do produtor Onofre Adinilson Vilela, que cultiva café em 16 hectares na fazenda Três Barras, no município de Carmo de Minas, e no sítio Lojinha, em Alpinópolis, ambos em Minas Gerais. Nesta safra, ele está colhendo 400 sacas, a um custo de R$ 340 por saca. E vendeu o grão pela média de R$ 500 por saca. A diferença de R$ 160 por saca é o dobro da média na região de Guaxupé. “Com isso, consigo me programar e definir o quanto posso reinvestir na safra seguinte”, diz o cafeicultor.  “Não podemos parar porque senão ficamos para trás.”

Para ajudar os produtores a melhorar o desempenho do negócio, identificando os gargalos de produção e propondo ferramentas de gestão, desde 2002 a Cooxupé, junto com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micros e Pequenas Empresas (Sebrae) e a Universidade de Viçosa (MG) acompanham fazendas por meio do programa Educampo. Atualmente, 46 propriedades integram o programa nas regiões de Carmo do Rio Claro, Guaxupé e Cabo Verde, no Sul mineiro. No biênio 2013/2015, do total das fazendas, 12 participantes não tiveram retorno do capital investido, enquanto outros 12 tiveram retorno superior a 20%. A outra metade dos cafeicultores recuperou 9% dos investimentos. “A Cooxupé não interfere na gestão do produtor, mas damos as ferramentas para que ele possa melhorar o seu negócio”, diz Paulino da Costa.